Crise do metanol expõe fragilidades e pode acelerar mudanças no consumo
O segmento de bares e restaurantes atravessou, nos últimos quinze dias, uma das maiores crises de sua história. As notícias sobre mortes confirmadas por intoxicação decorrente do consumo de bebidas alcoólicas geraram um clima de insegurança entre os consumidores, que passaram a evitar os bares. Como consequência, o movimento despencou nos estabelecimentos em todo o país nas últimas semanas.
O presidente da APRESSA (Associação Paulista de Bares, Restaurantes, Eventos, Casas Noturnas e Afins), Cesar Ferreira, lamentou os recentes acontecimentos envolvendo bebidas adulteradas e reforçou a importância de união entre empresários, autoridades e entidades representativas para proteger o setor e a sociedade.
Segundo ele, “o momento é de atenção e responsabilidade. Muitos empresários ainda se recuperam de períodos difíceis e agora enfrentam mais um desafio que afeta tanto a confiança do público quanto a sustentabilidade dos negócios. É hora de fortalecer parcerias e buscar soluções conjuntas para restabelecer a segurança e o equilíbrio do mercado.”
Na última sexta-feira, o Secretário de Segurança Pública de São Paulo anunciou que o foco da contaminação foi identificado em uma fábrica clandestina localizada na região do ABC. Apesar da confirmação, a notícia não teve o efeito resolutivo esperado, aquele sentimento coletivo de encerramento do caso.
O fim de semana foi de cenário desolador: os principais bares permaneceram vazios, evidenciando que a confiança do consumidor no consumo de bebidas alcoólicas continua abalada. O maior desafio, agora, é que essa confiança talvez nunca volte ao patamar anterior, representando mais um ponto de inflexão no comportamento de consumo.
A geração Z já vem sinalizando à indústria uma relação diferente com o álcool, enquanto as gerações anteriores — tradicionalmente mais consumidoras — demonstram queda gradual no engajamento.
Diante desse contexto, o mercado precisará se reinventar, como parte de seu ciclo natural de evolução. Essa reinvenção passa, necessariamente, por uma reconstrução da confiança do cliente, e esse processo deve começar na ponta da cadeia: os bares e restaurantes.
Com isso em mente, elencamos algumas medidas que podem compor um protocolo interno voltado à transparência, segurança e credibilidade, reforçando a confiança do consumidor no que está sendo servido.
Quais medidas podem ser adotadas?
1. Checklist de falsificações
O rótulo e o contrarrótulo são essenciais na checagem, bebidas legalizadas no Brasil devem trazer informações completas, como número de registro no Ministério da Agricultura, data de fabricação e lote. Além disso, o mais importante é observar o fundo da garrafa, o número do lote gravado na embalagem deve coincidir com o que aparece no lacre.
Essa correspondência é um dos indícios mais confiáveis de autenticidade, pois cada lote é gerado e impresso de forma automatizada durante o processo de envase. Isso significa que replicar dois códigos idênticos (no lacre e na garrafa) exige um nível de personalização que inviabilizaria a falsificação.
2. Selo de Auditoria Interna
Uma outra ideia é o estabelecimento realizar uma auditoria interna de forma periódica e criar um selo de conferência das bebidas, uma forma de demonstrar transparência em relação a execução do processo em que os produtos com esse selo foram verificados quanto à procedência e segurança. Isso mostra que o local tomou medidas ativas para confirmar a autenticidade das bebidas.
3. Buscar distribuidores homologados de cada marca
Continuar buscando distribuidores homologados oficiais de cada marca é uma medida essencial para garantir a procedência das bebidas. Ao adquirir produtos apenas desses fornecedores, o estabelecimento reduz o risco de comprar itens falsificados ou adulterados e assegura que está oferecendo produtos originais e seguros aos clientes.
4. Novas tecnologias
A inovação também tem sido uma aliada importante no combate à contaminação por metanol. Pesquisadores da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) desenvolveram um método rápido e de baixo custo capaz de identificar adulterações em bebidas em poucos minutos, com até 97% de precisão. Além disso, trabalham em uma solução ainda mais funcional e acessível: um canudo que muda de cor ao entrar em contato com o metanol.
A proposta é oferecer uma forma prática de detecção, garantindo que o próprio consumidor possa verificar a segurança da bebida antes do consumo. Essas tecnologias representam um avanço importante na prevenção de intoxicações e na promoção de maior confiança no mercado de bebidas.
5. Transparência gera credibilidade
Os detalhes importam, o DGuests desenvolveu uma funcionalidade inédita em seu cardápio digital, agora cada drink exibe uma tag de “Origem” editável para preenchimento do dono do estabelecimento, que indica se a bebida vem diretamente da fábrica ou de um distribuidor homologado, ou seja, oficialmente reconhecido e certificado pela marca. O estabelecimento também pode incluir observações adicionais, como o nome do distribuidor, oferecendo ainda mais transparência e credibilidade.
Essa novidade não apenas aumenta a confiança e a tranquilidade do consumidor, mas também ajuda os estabelecimentos a comprovarem a procedência das bebidas que servem, reforçando seu compromisso com a qualidade e fortalecendo sua reputação no mercado. Saber de onde vem a bebida é um diferencial que valoriza a experiência do cliente e mostra o cuidado do estabelecimento com quem está à mesa.
Clique aqui para ver como essa função está inserida no cardápio
6. Novas oportunidades de venda no setor de bebidas
Com as mudanças de comportamento do consumidor, produtos prontos para beber, como destilados enlatados, ganharam mais espaço no mercado. Essas opções oferecem praticidade e mais segurança por não serem alvos de falsificações, o mercado assistiu nessas últimas semanas uma explosão no volume de compras desses tipos de SKU, além de produtos como cerveja e vinhos.
Da mesma forma, se o seu estabelecimento ainda não trabalha com categorias como vinhos ou drinks prontos, esse pode ser um bom momento para explorar novas oportunidades e diversificar as ofertas, atendendo a diferentes perfis de consumo.
Em reunião com as principais multinacionais do setor de bebidas, o DGuests propôs a criação de um selo de autenticidade a ser aplicado nas garrafas comercializadas por distribuidores homologados. A iniciativa tem como objetivo reforçar a transparência e a rastreabilidade da origem dos produtos, oferecendo ao proprietário do estabelecimento maior segurança quanto à procedência das bebidas adquiridas.
Além disso, o selo funcionaria como um indicador visual de conformidade: em eventuais situações de ruptura na cadeia logística, em que o distribuidor homologado precise recorrer a compras fora do canal oficial, a ausência do selo alertaria o comerciante sobre a origem não certificada da garrafa.
A crise do metanol deixa uma marca profunda no setor, mas também abre espaço para uma transformação necessária. Mais do que recuperar o movimento perdido, bares, restaurantes e marcas terão de reconstruir a confiança do consumidor com base em transparência e responsabilidade. O desafio é grande, mas é também uma oportunidade de elevar o padrão de segurança e qualidade em toda a cadeia do consumo de bebidas no país.